Quem foi Washington Moragas?
A pergunta descrita no título acima vem da primeira indagação de uma discente do nosso curso de Direito da UFG de Jataí-GO e representante de nosso Centro Acadêmico, em ligação telefônica atendida por mim há alguns dias atrás. Como nada é em vão, valho-me do pronome possessivo “nosso” na oração antecessora para dar ideia de que o singelo texto das linhas subsequentes trata brevemente de partes da vida de três discentes que por uma ligação sabem que têm semelhanças de local de estudo e de centro de representação estudantil. Aliás, atualmente, centenas de discentes e egressos mantém e manterão tais semelhanças.
Falar do professor, do doutor, do amigo, do discente, do referencial, do líder Washington Moragas, desde seu enterro, não me é tarefa fácil, posto que sempre me vem na memória a viagem que fiz de Jataí-GO para Uberaba-MG pensando nas palavras que diria para sua Mãe e ao chegar na cerimônia, ao lado de seu caixão, ao abraçar sua matriarca, com um sopro de ternura ela me diz ao pé do ouvido: “sinta no meu abraço o abraço do meu filho”. Naquele momento e nesse que escrevo, a garganta aperta, os olhos ficam turvos e as lágrimas descem. Recuperado da emoção lá passo a olhar aquela senhora consolando todos aqueles que foram lhe consolar e entendo de onde vem a força do amigo de quem fui me despedir e, aqui, passada a emoção dessa lembrança, volto a escrever.
Washington Moragas foi um dos Professores que quando veio a oportunidade de reestruturação e expansão das Universidades Federais (REUNI) em meados de 2007-8, pensou o projeto do nosso curso de Direito na Regional de Jataí, propôs e defendeu, em todos os órgãos que fazia parte ou lhe davam voz, a ideia que veio a ser aprovada.
Após a aprovação do projeto, com o curso já sendo uma realidade do ponto de vista formal, foi convidado para ser o primeiro coordenador do Curso de Direito, o que foi de plano recusado, visto que o seu interesse era ser integrante do corpo discente. Em que pese ser Professor na época e já ostentar o título de doutor, não quis tentar a via do portador de diploma, se submeteu ao vestibular e foi aprovado em 16º lugar, ingressando na Instituição da mesma forma como eu e todos os meus bravos amigos e amigas da 1ª turma de Direito.
Voltando a ser discente, Washington era um aluno brilhante e logo nas primeiras aulas foi convidado pelo Prof. Altamiro Garcia para integrar um grupo de pesquisa acadêmica. Apesar de naquela época já contar com a experiência de anos e anos de sala de aula, sempre teve a humildade de escutar, fazendo pouquíssimas intervenções nas aulas e anotando tudo que lhe chamava a atenção com seu olhar de pesquisador, pois sabia, mais que ninguém, da importância daquele aprendizado.
Me lembro que no início do curso não tínhamos prédio para o curso, R.U., professores de direito [ainda estavam cumprindo as formalidades do concurso que tinham sido aprovados] e livros [no campus, só haviam poucas constituições impressas e um único livro de direito agrário]. Nas lutas que tínhamos como estudantes ele sempre era um vigoroso conselheiro, nos avisava dos regulamentos que deveríamos obedecer, das decisões que tinham sido tomadas no passado e sempre nos apontava um caminho para ser seguido. Caminho esse que culminou em exitosas conversas com a Reitoria que fez compras emergenciais de livros, disponibilizou professores substitutos e, certamente, suas orientações incentivaram a mim e outros colegas para entrar para o movimento estudantil.
No fim do nosso primeiro semestre, vítima de um terrível acidente automobilístico e reforçado a tese de Renato Russo para quem “os bons morrem jovens”, morreu nosso inigualável discente, jovem e bom amigo Washington Moragas. Mas desse acidente nem tudo se foi, sobreviveu seu filho que está entre nós e certamente enche de orgulho seu pai e seus feitos, como a construção do curso de Direito que gera e gerara muitos e muitos bons frutos.
Para finalizar, tentando não me alongar e responder à difícil pergunta, Washington Moragas foi colega, amigo, consultor, discente, mestre, doutor, professor, pai, enfim, foi um grande homem. Saudades desse meu dileto amigo!
Texto escrito pelo Elias Menta Macedo
Goiânia-GO, 18 de maio de 2017.
